É fascinante acompanhar a evolução do design e estilos de identidades visuais nas artes cridas para cartazes da Copa do Mundo.
Tradição desde a edição inaugural, em 1930, no Uruguai, os cartazes sempre foram usados como as principais peças na comunicação desses eventos.
Contam um pouco da história do mundo, suas diversidades culturais, tradições, manifestações artísticas, avanços tecnológicos e, claro, a história do próprio futebol.
A ruptura na representação da bola entre as Copas 66 e 70, por exemplo, é visível no cartaz “México 1970” e acontece no momento em que a Adidas torna-se a fornecedora oficial das “redondas”.
Outro exemplo é a presença das pesquisas tecnológicas da corrida espacial na peça “Chile 1962”.
A arte rouba a cena no cartaz “Espanha 1982” com uma belíssima ilustração surrealista do artista catalão Joan Miró.
Entre 1942 e 1946 o torneio é interrompido por conta da II Guerra Mundial. E por aí vai…
Confira a história do futebol através dos cartazes da Copa do Mundo, desde a primeira edição em 1930, no Uruguai, até chegar à Copa de 2014, no Brasil.
1930 – Uruguai
O pôster oficial da primeira Copa do Mundo da Fifa é uma criação do artista Guillermo Laborde.
A arte, bem vertical, traz características da Art Déco, estilo gráfico dominante na época.
O time da casa foi o campeão ao vencer Argentina na final por 4 a 2.
1934 – Itália
O cartaz destaca um jogador com a camisa azul da Itália, com a presença das bandeiras dos países participantes ao fundo.
O Brasil tá ali. A tipografia em destaque é sem serifa geométrica.
A anfitriã Itália ganha o primeiro Mundial na Europa ao vencer a Tchecoslováquia de virada.
1938 – França
Nesse pôster o mundo substitui o campo de futebol e tem um jogador em posição imponente que segura a bola com o pé.
A arte, dominada pela tonalidade vermelha, é do ilustrador francês Desmé, e retrata uma época tensa e bem próxima da II Guerra Mundial.
A Itália conquista o bicampeonato na França.
1950 – Brasil
Por conta da da II Guerra mundial, o campeonato foi interrompido por 12 anos.
O pôster celebra a união dos países, com suas bandeiras formando a meia de um jogador. No plano de fundo o Pão de Açúcar.
A seleção canarinho perde o título para o Uruguai, no Maracanã.
1954 – Suiça
Um goleiro volta a ser destaque em um cartaz oficial da copa, mas dessa vez, assiste perplexo a bola ir para o fundo da rede.
Curiosamente é o primeiro e único cartaz que mostra o momento do gol. Destaque também para as cores e um estilo quase primitivo.
Na final, a equipe alemã derrotou a Hungria, que não perdia há 31 partidas, por 3 a 2.
1958 – Suécia
A mistura de idiomas é uma novidade nesta peça, que apresenta pela última vez as bandeiras dos países participantes, frequente nos desenhos anteriores.
O Brasil conquista o primeiro título mundial com vitória de 5 a 2 sobre o tima da casa.
1962 – Chile
O cartaz chileno traz uma bola de futebol ao lado do globo e faz clara referência às pesquisas tecnológicas da corrida espacial, que anos depois levou o homem à Lua.
O Brasil vence a Tchecoslováquia por 3 a 1 e chega ao bicampeonato.
1966 – Inglaterra
Foi o primeiro cartaz a ter um mascote oficial (Willie, um simpático leãozinho) que ganhou destaque na arte.
Ele veste a camisa da Inglaterra e chuta para o alto uma bola dourada. Limpo, bem diagramado, mas com pouco impacto visual.
Mais uma vez o país anfitrião é consagrado campeão do mundo.
1970 – México
Este pôster provoca uma ruptura em relação às artes anteriores de cartazes da Copa do Mundo, porque é minimalista, pregnante, estático e geométrico.
A tipografia fantasia traz a padronagem de faixas, comum nas artes mexicanas e o tom rosa desafia suavemente um esporte predominantemente masculino.
A mudança também se deve à novidade do modelo da bola oficial Adidas Telstar, com seus gomos pretos de cinco lados.
O Brasil vence a Itália por 4 a 1 e é o primeiro a conquistar o tri.
1974 – Alemanha
O pôster de 1974 traz a ilustração de um jogador com a bola nos pés, através de fortes pinceladas coloridas.
Uma pintura clássica, que mostra a força e a energia do futebol realçada pelo fundo preto.
A Alemanha vence a Holanda por 2 a 1 e se torna bicampeã do mundo.
1978 – Argentina
O cartaz emprega técnica pop, com uso de retícula ampliada.
Dois jogadores celebram o momento do gol e, ao mesmo tempo, da a entender ser um jovem com as mãos para o alto sendo preso.
Esse duplo sentido pode estar em sintonia com o momento do país, que se encontrava em plena ditadura militar.
A equipe anfitriã garante seu primeiro título mundial.
1982 – Espanha
O pôster de 82 traz uma belíssima pintura de Joan Miró, com o estilo surrealista do artista catalão.
Ressalta a liberdade de pensamento e eleva o futebol à condição de estado de arte.
A Itália vence a Alemanha Ocidental por 3 a 1 e conquista o tricampeonato.
1986 – México
A sombra de uma figura olímpica é projetada nas colunas da civilização asteca, importante referência da cultura mexicana.
A tipografia segue o estilo de faixas do cartaz de 70.
A Argentina torna-se bicampeã com a “mão de Deus” de Maradona.
1990 – Itália
A imagem em preto e branco do Coliseu, principal cartão postal da Itália, foi o pôster oficial da Copa de 90.
Conceitualmente interessante, faz um paralelo da batalha dos gladiadores com a dos atletas do futebol.
Graficamente é um cartaz clássico, mas um pouco sombrio, além da legibilidade tipográfica ter pouco contraste.
A Alemanha Ocidental chega ao tricampeonato depois de vencer a Argentina na final por 1 a 0.
1994 – Estados Unidos
No cartaz norte-americano é evidente a presença do já conhecido nacionalismo das cores da bandeira.
O Brasil conquista o tetra contra a Itália, depois de jejum de 24 anos.
1998 – França
Uma ilustração colorida, despojada e festiva traz ao centro um campo de futebol e celebra a volta do torneio à França.
A tipografia manual e o experimentalismo gráfico marcam esta peça.
A equipe anfitriã foi campeã do mundo pela primeira vez após vencer o Brasil por 3 a 0.4
2002 – Coreia do Sul/Japão
Pela primeira vez, o continente asiático recebeu uma edição do torneio.
O campo de futebol é representado por traços tradicionais da caligrafia do leste asiático e mostra o futebol como arte, improviso e alegria.
Feito em parceria pelos designers Sogen Hirano, do Japão e Byun Choo Suk, da Coreia do Sul.
O Brasil conquista o penta em vitória sobre a Alemanha por 2 a 0.
2006 – Alemanha
Uma bola formada por estrelas representa o Mundial disputado na Alemanha unificada, a consagração do futebol globalizado.
A Itália levou a taça após vencer a França na final, nos pênaltis.
2010 – África do Sul
Pela primeira vez na história, o continente africano recebe o evento.
Este pôster celebra este momento, com a fusão da imagem de um homem negro com o mapa da África.
O olhar na direção da bola, passa a ideia de um continente forte, que se agiganta paro o futuro. As cores são fortes, com predominância do amarelo.
O desenho vetorizado mostra a atual arte digital. A criação é da Switch Design Group. Na minha opinião um dos mais belos cartazes da Copa do Mundo.
A Espanha se consagra campeã do mundo ao vencer a Holanda por 1 a 0, na prorrogação.
2014 – Brasil
Com o tema “Todo um país a serviço do futebol – Brasil e futebol, uma identidade
compartilhada”, o desenho da peça retrata duas pernas disputando uma bola e revelam o mapa do Brasil.
A composição reúne símbolos da fauna, flora e da cultura nacional, no estilo do logo da Unilever. A criação é da agência de design Crama.
2018 – Rússia
Criado pelo artista russo Igor Gurovich, o cartaz oficial da Copa de 2018 apresenta um design moderno e geométrico. com inspiração na arte tradicional russa e na arquitetura dos estádios.
Através de cores vibrantes e padrões geométricos que refletem a energia e a cultura vibrante da Rússia, a figura central do cartaz é o lendário goleiro soviético Lev Yashin.
Sem dúvida o autor se inspirou no movimento russo do construtivismo a partir do final dos anos 1920.
2022 – Catar
Criado pela artista catariana Bouthayna Al Muftah, o cartaz oficial da Copa de 2022 apresenta um design minimalista e abstrato, inspirado na caligrafia árabe e nos padrões islâmicos.
A pôster apresenta a mão de uma pessoa lançando para o alto o lenço (ghutra) e a corda (agal), peças tradicionais usados pelos homens no mundo árabe para cobrir a cabeça.
A ghutra e o agal se transformam em símbolos de triunfo e alegria, como se estivessem celebrando um gol.
Simbolicamente o cartaz representa a cultura e a tradição do Catar e, ao mesmo tempo, transmite uma mensagem universal de celebração e união.
Muito bom ver a evolução dos cartazes, as histórias… Show!
Valeu Adriano, obrigado por participar! Abs,
O cartaz do Brasil ta criativo hein… ótimo artigo!
O meus preferidos são o do México e da África do Sul, mas o do Brasil, com as pernas formando o mapa, ficou bem interessante. Obrigado pela presença de sempre! Grande abraço,
Me senti honrado porque esse material de ótima qualidade foi lançado primeiro no Mundo UH! Mestre, já te dei todos os parabéns pelo trabalho e agradeço mais uma vez por sua presença no espaço dos Andys!
Poder contribuir de alguma forma para um projeto tão bacana, como o do Mundo UH!, me deixa muito feliz! Adorei fazer o artigo e aprendi muito. Agradeço demais essa oportunidade e que venham mais… Forte abraço Mestre,
Espanha!! Adoro o Miró!
Eu também. Valeu Celia, bjs,